Em abril de 2021, fui desligada do emprego que estava como Social Media. Já faziam alguns meses que estava insatisfeita com aquele trabalho, que estava pensando qual seria o melhor plano para sair de lá — começar a pegar mais freelas que pudessem pelo menos cobrir o valor que recebia lá, tentar direcionar mais para o que queria fazer de fato, procurar algum curso para me aprofundar. Mas, uma manhã de quarta-feira veio acompanhada com a notícia que não iriam dar continuidade com a minha vaga e tudo caiu para mim.
Eu não tinha plano, não tinha reserva e não sabia o que fazer diante daquilo. Desmarquei o que tinha para aquela semana para conseguir processar o fato e pensar no que poderia fazer de imediato. Atualizar currículo, configurar pesquisas de vagas no Linkedin, analisar quais gastos podia cortar, mandar mensagem para pessoas com que já tinha trabalhado pedindo indicações e o famoso “manda jobs”.
Um mês depois, comecei a fazer terapia. Não pelo desemprego, mas por tudo que já estava me rodando até então — pandemia, isolamento, fim da faculdade, relacionamentos. Tudo que estava me deixando ansiosa, principalmente as ausências.
Nesses um ano e cinco meses, perdi a conta de quantos currículos mandei. De quantos pedidos de orçamentos propus. Me lembro das poucas entrevistas que fiz. Mais ainda dos poucos freelas que fechei (ufa!). Também perdi a conta de quantas vezes o meu trabalho foi o assunto da terapia. Já compartilhei como foi a experiência de organizar meus trabalhos e enviar mundo afora — uma curiosidade: eu fiz isso após uma sessão intensa e que saí com a certeza que não tinha feito muita coisa, por isso não estava fechando nenhum trabalho.
Nunca foi problema explicar o que eu fazia, quais eram as minhas angústias, o que eu queria estar de fato fazendo. Vez ou outra ela me perguntava por quê tinha escolhido as artes e a cultura, por quê fotografia de dança, para onde eu poderia ir com os meus conhecimentos, quem eu poderia me conectar com o que criava. A terapia acolheu muitas das minhas angústias e me guiou para muitas respostas.
Vale dizer que, dentre as minhas vagas que apliquei nesse período, quase nenhuma me animou. Seja pela vaga, pela empresa, pelo modelo de trabalho (100% presencial? Meu bem, 2 anos, para, vai viver), pela remuneração. Alguns eu até torcia para não dar em nada só para não ter que lidar com a vaga em específico.
Recebi dois pedidos de orçamento que me animaram: eram para redes social (que não é algo que eu gosto) para um artista e uma pequena produtora (é com quem eu gosto de trabalhar). Me animei, passei até batom para fazer os cálculos, apresentei propostas e fui inundada com o silêncio. Com a ausência. Depois de alguns “oi, tudo bem? Você tem algum retorno? Ficou alguma dúvida?” a resposta era que meu valor era caro e que iam seguir de outra forma.
Manda mais currículo, corta mais gasto, chora mais na terapia.
Até que, ela virou para mim e começou a listar tudo que eu tinha feito entre a demissão de abril e aquela semana. Foi uma lista longa. Coisas que eu nem lembrava mais. E então veio seguido de “Bia, você percebe que mesmo quando você se sente parada, você está se movendo? Você está buscando pelo movimento?”.
Claramente eu fiquei encarando o vazio pelo resto do dia.
E alguns dias depois, meu celular apitou diversas vezes com amigos me mandando uma vaga que tinha acabado de abrir. Na área que eu gosto. No modelo que eu procurava. Em um contexto que mexe comigo. Passei o batom, conferi o currículo, escrevi o email, enviei.
Um mês depois, entrei no consultório contado que fui contratada e que estava animada por ver as coisas acontecendo. Obviamente que o elogio vem acompanhado de bronca, então depois de me parabenizar, perguntar alguns detalhes, ela me lembrou que as coisas estavam acontecendo desde o dia que fui desligada. Que o tempo, o movimento e eu não paramos durante um ano e cinco meses.
O movimento podia ser lento, podia me atropelar, podia ser angustiante ou esperançoso, mas era movimento.
Também aproveitou para me lembrar que não era porque “tudo tinha se resolvido” — entre muitas aspas, mesmo! — que o movimento iria ceder. Muito pelo contrário, seriam novos movimentos — se adaptar a uma nova rotina, conhecer novas pessoas, andar por novos lugares, criar de outras formas.
O movimento continua.
O movimento é sexy (foi difícil escrever essa edição sem deixar a piada passar)
Conversa comigo: como é perceber os movimentos da sua vida?
Para matar a curiosidade: estou trabalhando com produção cultural, na Casa Locomotiva, fazendo uma ponte rodoviária entre Campinas e São Paulo. Em breve eu conto mais do que eu tô fazendo.
Mas também fica aberta a opção de mandar mais trampos para criarmos juntos <3
Um dos movimentos que aconteceram por aqui: A Abigail é uma das minhas cafeterias favoritas — já passei horas escrevendo lá, muitos desses textos nasceram por lá.
Então, é com muita alegria que coloquei algumas fotografias de dança minhas lá no espaço deles. Se você tomar um café e ver minhas fotos, me manda uma fotinha!
Nessa mudança de rotina, atrasei minhas leituras e minhas dicas de fim de newsletter, então vou me concentrar em uma:
“Marte Um”, de Gabriel Martins, disponível nos cinemas, estou pronta para ver esse na lista de indicados de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2023.
Por hoje é só. Te vejo do outro lado. Um beijo!