Fiquei surpresa com os retornos da última edição de “em processo”, em que muitos de vocês se identificaram, me escreveram no privado e compartilharam nas redes. Fico muito feliz de ver esses espaços de conversas que criamos por aqui e fico feliz quando vocês pregam a palavra dessa newsletter. “em processo” é um projeto pessoal que precisa dos outros para existir.
Também tenho reparado em que momento esses retornos chegam — alguns logo no dia do envio, outros nos dias seguintes e tem até aqueles que chegam meses depois. Todos são bem-vindos, mas queria entender em que momento da semana você costuma ler os textos, me conta?
Havia um vazio no espaço-tempo, um espaço que poderia ser preenchido, algo que poderia ser feito. A grande dúvida era com o que — ali já não se cabia mais o que estava sendo feito até então: mais algumas horas na frete da tela, pesquisando por algo que já estava imersa, na companhia da minha solidão. Olhei ao redor e questionei onde poderia estar.
Me lembrei daquele lugar que entrei poucas vezes porque as rotinas não me davam o tempo. Lembrei daquilo que sempre falei que assim que liberasse umas horinhas da semana, iria passar o tempo por lá. Me lembrei daquilo que passei anos falando que queria experimentar: o laboratório.
O laboratório sempre me atraiu, mas inúmeros motivos me levaram para longe. Consegui dar algumas passeadas, mas queria mesmo era poder colocar minhas mãos ali, mexer nos materiais, entrar e sair, voltar mais uma vez. Queria poder fazer algo diferente porque aquilo que eu estava fazendo até então tinha se tornado o lugar comum, o lugar em que já me via limitada.
Foi assim que voltei para o lugar de experimentar, testar, fazer de novo. De volta ao laboratório, pude me lembrar daquilo que motiva a minha imaginação, que me dá vontade de andar mais um pouco só pra poder pegar aquele enquadramento, que me faz voltar correndo para tentar de novo. Voltar ao laboratório me colocou no lugar de querer descobrir.
Essas imagens são pin-holes que fiz esse mês em uma disciplina na Unicamp que peguei como estudante especial. É estranho estar na universidade de novo, mas é bom voltar para o lugar quase-inocente de fazer algo novo.
O espaço da experimentação é essencial para entender o que quero criar. Nele não há a pressão de ter que fazer certo, como há no lugar de criar com propósito final — fotografar um espetáculo, executar um projeto audiovisual, escrever um artigo, insira o que quiser aqui. Experimentações esperam pelo erro para se aprimorarem.
No momento, o melhor exemplo de laboratório é a Quinta Brunson, que acabou de ganhar o Emmy por Melhor Roteiro de Comédia por Abbott Elementary. A Quinta trabalhou no Buzzfeed, criando esquetes em vídeos — sobre cenas corriqueiras, relacionamentos, perrengues da vida adulta. Nesse vídeo ela conta sobre essa trajetória [legendas em inglês]
Assisto seus vídeos desde essa época e assistir Abbott Elementary me fez perceber o laboratório da Quinta: dá pra ver a evolução das suas criações, assim como dá pra ver de onde ela veio e que sua essência criativa permanece ali.
“Acompanhar a Quinta Brunson ir de vídeos do Buzzfeed ao palco do Emmy foi simplesmente fantástico”
Você consegue enxergar o seu laboratório?
E falando em Emmy, escrevi sobre a categoria de Melhor Minissérie e Série Antológica lá no Valkirias, vem cá ler
Obrigada por mais essa leitura <3 Lembre-se que o melhor jeito de manter essa newsletter viva e em movimento é compartilhando-a!
Deixo vocês com o momento que garantiu o Emmy da maravilhosa Sheryl Lee Ralph (Mrs. Barbara Howard é minha pastora e nada me faltará). Até logo!
Acho interessante para pra pensar sobre qual é meu laboratório, porque vejo esse espaço como aquele lugar de ócio criativo, que eu tenho tempo e espaço para olhar, refletir, pesquisar, estudar e enfim propor algo que é valioso pra mim. Infelizmente o cenário corporativo no qual eu trabalho me insere um uma realidade de necessidade de entrega frenética que muitas vezes me obriga a quase não pensar e entregar as coisas com profundidades rasas e com um correria que tira o "autoral" em pró da velocidade. Cada vez mais me pergunto: onde está o meu momento de crescer e me fortalecer dentro do dia a dia tão corrido e caótico? Cadê o meu laboratório no dia a dia que me permite fomentar ideais pra que no futuro possam entregar algo real?