Se for para escolher entre criar sozinha ou criar em colaboração, tendo a escolher o coletivo. Acredito que com a pandemia essa vontade aumentou, depois de tantos meses isolada. Gosto de co-criar porque passo a ver aquele projeto por outros olhares, recebo feedbacks do que e como estou fazendo e o ditado já dizia — duas cabeças pensam melhor que uma.
Também gosto dos momentos de solitude para criar — a casa própria da criatividade. Mas, será que realmente criamos sozinhos, em silêncio e sem interferência? Acredito que não. E isso pode parecer meio óbvio, mas tendemos a esquecer e nos convencemos que estamos sós.
Sim, podemos construir um ambiente silencioso para criar. No meu caso, o completo silêncio mais me atrapalha do que ajuda, nele eu me perco na cacofonia dos meus pensamentos. Preciso abafá-los de alguma forma para conseguir me concentrar — nesse momento, resgatei a Beatriz de 15 anos que usava lápis de olho preto e ficava rabiscando as músicas do Death Cab for Cutie nos cantos do caderno.
Não acredito que seja possível criar algo inteiramente sozinho, mesmo que seja uma produção solo. Existem vozes que sussurram no nosso ouvido no momento que pegamos um lápis, uma câmera, abrimos um arquivo. Algumas dessas vozes foram solicitadas por nós mesmos no momento de pesquisa prévia, outras são vozes que ficam de canto e que pedem a sua vez de falar. Elas podem vir daquele filme que você assistiu no final de semana, daquele senhorzinho que falou com você na farmácia, da conversa que você entreouviu no transporte público, daquele livro que você lê antes de dormir.
Nosso repertório está em constante construção, quer você queria ou não. Ele é construído nos momentos que você escolhe a dedo o livro daquele teórico renomado na sua área, no espetáculo que você decidiu assistir porque tem a ver com a pintura que você está criando ou na sua busca por palavras-chave no Pinterest. Ou ele está sendo construído nesses "acasos" que é estar vivo.
Outra voz importante para qualquer criação é aquela que critica — mesmo quando você acha que já está bom. A crítica pode vir só no final, quando a produção está no mundo e as pessoas vão deixar comentários no seu perfil. Ou ela pode vir no meio do processo, quando você mostra pra alguém o que está fazendo e pergunta o que ela acha — de verdade. Eu gosto de ter um público beta nos meus projetos, seja vídeo, texto, fotografia, desenho. Escolho a dedo quem eu sei que vai apontar meus erros sem dó e ressaltar o que fiz certo sem me paparicar. Essas vozes me guiam no momento da solitude.
Não acho que seja possível criar em silêncio, mas acredito que podemos controlar o volume das vozes, quando necessário. Quando as ideias estão tão intensas que você nem consegue concluir o pensamento, é um bom momento para listá-las, analisá-las e descartar o que for necessário para dar o próximo passo. Quando são tantas referências a ponto de se contradizerem e não te levarem a nada, é o momento de garimpar e escolher apenas três (ou outro número de sua preferência) para serem o seu mapa. E quando todo mundo quer dar uma opinião que não ajuda em nada, é hora de agradecer, encerrar a conversa, dar um passo para trás e começar de novo.
Quais são as vozes que te ajudam? Onde você as busca? Como você as silencia quando preciso?
fiz o curso de colagem digital da Bárbara Siewert e ela tem uma aula ótima sobre como construir um projeto e buscar por referências, foi uma lâmpada acendendo na minha cabeça e que consigo aplicar em outros tipos de projetos.
comecei a pensar mais sobre construir repertório depois que assisti a série Por Dentro da Pixar, disponível na Disney+. Cada episódio é com um funcionário do estúdio, desde roteiro, animação, trilha sonora, construção de personagens. Eles mostram seus processos, como os projetos mudam ao longo do tempo e como chegaram ao resultado final.
a Nádia Camuça é escritora independente e compartilha a sua rotina de criação, desde as dificuldades, o que tá dando certo, o que ela precisa repensar e como produzir de forma independente. Recentemente, ela criou uma nova newsletter para falar das dores de ser artista nas redes sociais. ~~spoiler: é o assunto da nossa próxima conversa~~
Temos uma conversa sobre videodança e composição de trilha sonora disponível para você ouvir. Conversei com a Cecília sobre as experiências dela com música e dança contemporânea, como foi criar trilhas sonoras, o que a relação dela com o cinema ajudou e como é criar com outras áreas artísticas.
Espero que você consiga identificar as vozes que te rodeiam e, lembrando, essa conversa não acaba aqui. Puxe a cadeira e venha conversar nos comentários, quero te ouvir.
A gente se vê de novo daqui duas semanas!
Um beijo e até a próxima.