Não tenho tempo para errar. Ou para ter certeza de que está certo. Não tem espaço para tentar. A certeza é muito incerta e não sei como encarar.
Não há interesse pelo rascunho. Me envia só a versão finalizada. A versão-final-5-agora-vai. Já pode descartar as anteriores, não me interessa. Quanta coisa já foi feita e não vista porque só importa o final.
Estou sentada na minha mesa, de frente para um quadro que pintei em 2021. Até hoje, 2025, não finalizei. Não minto que é por preguiça. Ele me encara todos os dias. Foi difícil pintá-lo. Tanto tempo trabalhando com a fotografia — o registro da luz — e tenho uma dificuldade imensa de organizar e enxergar os pontos de luz em um desenho. Talvez, por isso, eu goste de pintar imagens chapadas. Blocos de cor. Talvez eu devesse aprender a iluminar no desenho. Tem outro quadro que até hoje não terminei. Errei demais nas cores desse, tentei consertar, só piorou e deixo como está.
Estou lendo um livro que comecei em janeiro. Já é junho, quase julho. Deixei-o de lado por uns meses e engatei de novo a leitura. Li outros nesse meio tempo e tenho mais outros que já foram iniciados e estão esperando a sua vez na estante.
Para escrever precisei desligar a TV e o computador, deixei o celular longe, aproveito que estou sozinha e tento me concentrar. Erro as palavras por diversas vezes e risco o papel com impaciência.
Já é junho, quase julho. O tempo passou de novo. O ano passou rápido de novo. Ao mesmo tempo que há tempos estou esperando. Esperando a dor passar. Esperando uma decisão que não pertence a mim. Mais de uma decisão, na verdade. Todas não pertencem a mim. Em minha impaciência, o refrão me vem:
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para não
Não há tempo para a calma. A cada segundo que passa, uma novidade, uma nova urgência, um novo. A cada vez que meu dedo rola pela tela, algo que ainda não vi e que não preciso ver.
Escrever a mão pode ser um porre, porque a ideia já me veio, mas o punho ainda não me alcançou e corro o risco de perdê-la. Já aconteceu tantas vezes. E a letra fica tão confusa que nem eu entendo.
Nas últimas semanas, meu algoritmo foi tomado por vídeos de livros de colorir. Acredito que cada um deve encontrar o que gosta de fazer, mas algumas coisas me chamaram a atenção. Tutoriais velozes de como se devia pintar e detalhar. Seguidos de desabafos de quem queria relaxar e se via obrigado a acertar um efeito, uma textura, uma luz — talvez por isso eu decidi pelas formas chapadas. Sem contar um consumo desenfreado de materiais para garantir todos os tons possíveis de uma cor. Já faz algum tempo que esses vídeos pararam de aparecer.
Aquilo que era para ser um escape da rotina que não permite tempo, tornou-se mais um momento de estresse disfarçado de uma tendência passageira. Nesse momento até me esforço em escrever mais devagar para ver se entendo melhor a letra e canso menos o braço.
Tem outra pintura na minha frente, que também não está pronta. Essa é mais recente, de abril. Pintei só o fundo. Não sei do que esse fundo é. Deixo aqui, me encarando, que sabe um dia consigo descobrir.
Até lá…