Decidi voltar a escrever porque sinto falta. Sinto falta de conseguir organizar meus pensamentos sob o papel. Assim como sinto falta de ter a escrita como forma de me conectar com outras pessoas. A escrita não precisa existir para ser lida — boa parte dela permanece reservada apenas para quem a escreveu. Mas fato é que, ao ser lida, é possível ser compreendida, questionada e convidada a continuar uma conversa.
Parei de escrever por falta de tempo e, também, falta de vontade. Não vou mentir que não fiz nenhum esforço para manter a escrita na rotina. Sim, é preciso um esforço. É dolorido escrever — pode doer o punho, pode dar dor de cabeça, pode cansar a vista e pode incomodar. Quem escreve e quem lê. E quem quer viver com incômodo? Já basta o ônibus cheio, os prazos apertados, as discussões da relação, a conta atrasada. Já basta tudo isso, para quê fazer um esforço para ter mais um incômodo?
Acontece que a escrita também clareia. Torna possível ver e entender o mundo ao redor. E nem precisa ser o mundo que vemos em um globo ou em um mapa. Basta ser o mundo que existe todos os dias — encontrar as brechas de um dia corrido, fazer uma pausa para o café, jogar uma conversa fora.
Já escrevi em muitos diários — angústias, desejos, sonhos e dúvidas. Quando releio esses diários, vejo como, ao longo do processo da escrita, fui capaz de decidir o que iria correr atrás e o que iria deixar para trás.
Também escrevi sobre cinema, televisão e literatura. Um site que reuniu mulheres de todo país para dialogar sobre presenças e perspectivas femininas na cultura pop. Por três anos, essa foi a casa da minha escrita. O que mais gosto desses textos é como me instigaram a minha curiosidade e me colocaram no lugar de pesquisar, conectar pontos, estudar e me fazer ver além do que já estava posto na tela.
E no meio do caminho, escrevi aqui, um espaço que eu mesma criei. Em meio o caos da pandemia, encontrei na escrita uma forma de voltar ao mundo. Encontrei uma forma de ser mais gentil comigo mesma e com o meu processo de criar. Diria que atravessei esse caminho tão bem que acreditei ter chego ao fim dele — e dessa newsletter. Acontece que já faz tempo que estou incomodada para voltar a escrever. E é engraçado porque já não sinto mais vontade de pensar sobre processo criativo, como era antes. Ele ainda existe — esse texto é um — porém tenho pensado outras coisas para além dele e que, de alguma forma, voltam para ele.
Sou muito apegada ao nome em processo e não tenho intenção de mudá-lo, mesmo que não escreva necessariamente sobre ele. Porém, viver, sentir, pensar e conversar é estar em processo. Assim, consigo justificar para mim mesma que o nome permanece. Ao mesmo tempo que me convido a escrever sobre o que está me incomodando.
E para começar, me incomoda saber: tem alguém aí ainda?
I'm still here!
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