Fique por tempo demais sem escrever, o que não deveria acontecer, não de acordo com aquilo que acredito de um processo, do fazer da escrita e daquilo que quero alcançar através da escrita. O problema é que isso daqui pede por tempo, espaço e desgaste. Desgaste da mente, do papel e da tinta. O tempo desgasta também. Se parar para pensar, a sua existência já é desgastada, a competição é acirradíssima: é tempo no trabalho, é tempo para cuidar dos outros, se for possível, tempo para cuidar da gente mesmo. É preciso manter os pratos equilibrados, sem espaço para deixar algo passar, muito menos admitir que hoje não deu.
Afinal, se não deu hoje, o que garante que dará amanhã? O que garante que amanhã vai ser melhor e isso aqui não será nenhum esforço? Esforço da mente, do papel e da tinta. Não há garantia nenhuma.
Mas, por algum motivo, volto a escrever.
A escrita tira dentro de mim aquilo que já não cabe mais, aquilo que já não faz mais sentido, aquilo que, de alguma forma, faz sentido para o outro. A escrita existe, em primeiro momento, apenas dentro do peito. Depois, no papel — para os mais modernos, na tela. Talvez ela venha a existir no outro, apenas se houver a intenção disso. Caso não haja, ainda é um processo de escrita. O que determina que o processo se encerrou? Que ali é o ponto final? Entendo como algo deixado para o próprio autor, apenas ele é capaz de determinar e lhe é reservado o direito único de definir — não cabe nem ao leitor, caso ele exista.
Comecei a escrever esse texto em uma terça-feira de muito sol, dia de folga no trabalho, em uma cafeteria no centro, em uma cadeira extremamente desconfortável. Estava tentando canalizar a energia de escritora — logo eu, que não aguento o papo de energia — ao mesmo tempo que me sentia puxada para longe das palavras como um todo. Essa relação é confusa porque há momentos em que faltam as palavras; outros que há demais delas e é difícil ordená-las; e há dias em que elas fluem perfeitamente. Volto a escrever em uma segunda-feira a noite, muito calor, suando logo após o banho e esse parágrafo é um amontoado de palavras conectadas apenas pela minha vontade-vergonha de ter encerrado o texto em — o que julgo — poucas palavras. É a famosa encheção de linguiça, muito usada em redações escolares, as quais já não faço há um tempo.
Chega. Aqui é onde decido encerrar, sem ter a certeza de que falei algo. Aliás, eu tinha algo para falar aqui?
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No passado fui menos amarga com minhas palavras, espero voltar ao normal logo. Caso não, espero que te sirva de algo, ao menos, um entretenimento na sua caixa de mensagens.
Entendo o que sente.