Vivi um domingo por alguns dias.
Na verdade, foi mais de um domingo, no mesmo, em alguns dias.
Sem querer, parei de escrever. Sem querer, volto a escrever, mas querendo, sim.
Parei de escrever pela falta. Do tempo, da força, da vontade e, principalmente, das palavras. Me faltaram palavras porque tinha parado de ver. Ver pessoas, ver a rua, ver o céu, ver páginas, ver telas. Na verdade, restou apenas uma tela. Pequena, vertical e que funciona em um looping sem fim. Tento me arrastar para fora dela.
Volto a escrever porque sinto a falta de ver as palavras saindo, uma a uma. Da minha cabeça, para minhas mãos, para meu papel, para a tela. Outra tela, tão cansativa quanto a outra. Ainda preciso voltar para aquela tela que não me permite correções.
O que é um domingo? Do que é feito? Pela calmaria, pela angústia, pelo silêncio ou pela ansiedade? Sim.
Ou, talvez, sejam apenas travessia por memórias inventadas, travessões de vida, sentimentos abandonados em caixas de papelão. Mas mexo em cantos redondos, vou fundo em cada imagem, relembro o diálogo incompleto e morto para que se criasse a solidão.
A vida que pulsa em palavras e em silêncios — é isso que quero lhe dizer, que escrever é meu modo de desenhar desmemórias, desimportâncias, essências do existir. Domingos.
Domingo, de uma forma singela e inesperada, me deu um desespero de voltar a escrever, voltar a contar minhas histórias, voltar a ver a vida pelas palavras.
Domingo também me deu vontade de voltar a respirar a vida pelas palavras lidas.
Assim, voltamos.
Domingo, escrito por Ana Lis Soares, publicado pela Editora Instante, nos traz sete histórias que se cruzam, quase que sem querer.
Bárbara, que amou José, que é vizinho de Beatriz, que é mãe de Amanda, que é filha de Carlos, que é pai de Sofia, que é tia de Carlinhos, que é amigo de Abayomi, que é sobrinha de Omolara, que conhece Antônia, que é irmã de Ernesto, que trabalha para Albertina, que é sogra de Carolina, que é noiva de Eduardo, que é irmão de Sofia, que é amiga de Adriana, que mãe de Isabella, que é sobrinha de Márcia, que conhece Amanda, que é filha de Beatriz, que é vizinha de José, que ama Bárbara.
Obrigada por estar nessas palavras.
Feliz que tenha voltado!