A edição de hoje é mais uma reedição de um texto já escrito que decidi compartilhar para lembrar a mim mesma de tomar vergonha na cara e retomar os hábitos que sei que me fazem bem.
Antes de ficar oito horas na frente do computador, tento ficar pelo menos uma hora no papel e na caneta — considerando que o kindle imita o papel — e oscilo entre dias em que me entrego nas palavras e dias que minha mente já está tão agitada que nem sei o que li e escrevi.
No começo do ano [de 2021] coloquei a meta de escrever todos os dias — sem grandes intenções ou com a certeza de que chegaria em algum lugar com isso.
Tem dias que eu só escrevo "não tenho nada para dizer, não sei o que escrever, o céu está bem azul hoje, aquela nuvem é estranha, hm preciso lavar roupa" — mais vezes do que seria elegante admitir.
De vez em quando, escrevo algo que gosto. Até releio a letra arrastada e passo a limpo para o computador, em um arquivo que a cada um par de meses abro de novo para ver o que tem ali.
Raramente continuo gostando do que estava ali, porém, ver as palavras em movimento com a minha vida me faz querer continuar.
Além disso, toda semana, anoto em que semana estou e hoje [26/04/2021] foi a vigésima. Vinte semanas escrevendo todos os dias e nem eu achei que conseguiria chegar num marco assim. Em vinte semanas, percebi minhas mudanças de humor, como o meu sono tá, qual tá sendo o estresse da semana e do que sinto falta. A escrita se tornou uma medida do tempo ao longo dessas semanas.
"Vinte semanas escrevendo sobre minhas angústias, meus sonhos, minhas saudades e algumas pérolas de uma dia em isolamento. A passagem do tempo é louca".
Preciso voltar a escrever para além dos prazos ou das metas concretas. Escrevo para entender o que está confuso dentro e fora de mim.
Falando em palavras, duas indicações:
Aftersun, Charlotte Wells, 2022
Para pensar nas palavras ditas, meio-ditas e não-ditas. Palavras que tentamos (re)construir com as imagens da nossa imaginação e da nossa memória.
Paul Mescal, interprete todos os homens melancólicos e você sempre terá o meu coração!
Sophie reflete sobre a alegria e a melancolia das férias que ela tirou com seu pai 20 anos antes. Memórias reais e imaginárias preenchem as lacunas enquanto ela tenta reconciliar o pai que conheceu com o homem que desconhecia.
Disponível no MUBI
Doida para escrever (coletânea de contos), Ana Elisa Ribeiro, 2021
Sobre nosso amor e angústia com as palavras, nossa relação com as tecnologias analógicas e digitais, nossos afetos e essa sensação de estar viva antes de estar morta.
Doida pra escrever: é assim que a autora se sente quando é assaltada pelas infinitas e infindáveis tarefas cotidianas que não deixam tempo algum para a escrita e a leitura. Doida pra escrever é a melhor tradução do estado em que esta autora se encontra depois de uma semana exaustiva, depois de um dia massacrante e antes de ser vencida pelo cansaço e pelo sono. Os boletos não param de chegar, brotam na caixa de correio, e nenhum é pago pelas atividades da escrevente. O jeito é deixar para depois, embora a vontade não passe. O desejo de escrever é persistente e se mantém, dia após dia. De vez em quando, a escritora consegue abrir um espaço para uma crônica, um conto, um poema. E não deixa escapar a oportunidade. Doideira boa. Quem nunca? Ou melhor: que escritora nunca?
Comprei a minha edição na gato sem rabo, uma livraria especializada em escritos de mulheres, localizada na Vila Buarque, em São Paulo.
Como sempre, obrigada pela leitura. Espero que essas palavras façam sentido nos seus dias.
Nos vemos em breve!