Comecei esse texto diversas vezes. Pensei nele no banho e no ônibus. Rascunhei no caderno e no editor de texto. Pensei nas referências e no que queria contar. Não o escrevi até agora. Duas semanas nesse processo. No processo de escrever uma newsletter que chama “em processo”. Gosto da escolha do nome por mostrar a continuidade da ação, algo que ainda está acontecendo e que não tenho projeção de quando vai acabar.
Algumas edições atrás contei sobre voltar para o laboratório e da criação em pinholes. Nesse dia, o laboratório foi um refúgio, um acalento e um espaço que desejei estar mais. Foi um dia que tive bons resultados, que fiquei satisfeita e que tive vontade de continuar a criar. Acreditei piamente no dizer “confie no processo”.
Há duas semanas, voltei ao mesmo laboratório, para uma técnica familiar e que também me deixa empolgada. Confiante no processo, na técnica, conferi o passo-a-passo, separei os químicos, preparei o cronômetro e comecei. Iria revelar dois filmes fotográficos: um tinha fotos da minha viagem a Belém em 2017 e outro eram fotos de um grupo de dança contemporânea, tiradas na semana anterior.
O primeiro obstáculo: quebrar as bobinas e colocar o negativo no tanque de revelação. No quarto escuro, é claro. Quebrei duas unhas, cortei o dedo e suei horrores. Levou 30 minutos. Rezei para que estivesse tudo certo.
Segundo obstáculo: manipular os químicos, controlar o tempo e confiar no processo passado de fotometria e preservação do negativo.
Passado mais 30 minutos, abri os tanques, comecei a tirar os negativos e…
Queimados.
Escuros.
Sem uma imagem.
72 poses em preto.
Fotos de viagem perdidas e um projeto no lixo. Expectativas frustradas. Não havia a possibilidade de recomeçar ou de corrigir algum erro ali ou aqui.
Respirei fundo, chorei um pouco, fui tomar um sorvete, assisti episódios de The Sex Lives of College Gilrs.
As fotos de viagem, fazer o quê. Ainda bem que também fotografei no digital e tenho todas no Drive até hoje. O projeto, precisava resolver. Não queria me render de volta ao digital, estava determinada aos métodos alternativos. Vamos voltar a pinhole, já que nos demos tão bem.
Reservei o laboratório de novo, preparei os químicos, montei um tripé improvisado, cortei o papel (no escuro, de novo).
3 tentativas e nada.
6 tentativas e começou a aparecer um quase nada de imagem.
9 tentativas, nada de novo.
12 tentativas e só uns pedacinhos de imagem.
Aumentei o tempo, diminui o tempo, deixei mais tempo nas lavagens, fui atrás de mais luz.
Nada de nada.
Frustrada novamente, precisava voltar para o trabalho, tinha jogo do Brasil, deixa o projeto de lado, faz um reflexão sobre as dificuldades dos métodos analógicos, como aprendemos a lidar com o digital, processos são complexos, aprendemos no erro.
Confiar no processo é fácil quando todos os testes dão certo, o cliente ficou satisfeito, seu chefe te elogiou, alguém quis comprar a obra, o PIX caiu.
Confiar no processo não é tão fácil quando todo material foi pro lixo, o cartão queimou, o orçamento não foi aprovado, você é mandando embora, não foi aceito no edital e o expositor te liga para falar que não quer mais seu trabalho ali.
O que resta, então?
Sim, eu deixei duas semanas passar sem texto. Além desse caos aí, tenho trabalhado bastante (o que é bom) e não consegui equilibrar todos os pratinhos.
Em breve, teremos um recesso de newsletter — para descansar e planejar o calendário do próximo ano!
Obrigada pela sua leitura e vamos a algumas indicações:
Não é novidade que a Aline Valek é uma das minhas grandes inspirações. O seu podcast Bobagens Imperdíveis acabou e o episódio final vale ser ouvindo diversas vezes. Mesmo que você não tenha acompanhado o podcast. Mas assim… deveria, então já fica a dica.
Desde a última vez que nos falamos, dois textos meus foram publicados lá no Valkirias. Uma análise da construção de personagens femininos no cinema de horror da Juliana Rojas: Monstros e seres fantásticos: as mulheres de Juliana Rojas. E uma análise do desenvolvimento de Nancy Wheeler em Stranger Things, com ênfase em não-estereótipos, lealdade e relacionamentos: A perda da inocência e o surgimento da força de Nancy Wheeler.
Simplesmente devorei “Os Coadjuvantes” de Clara Drummond.
Todos obcecados por Wandinha. Com razão, Jenna Ortega entregou tudo e mais um pouco na sua versão da personagem. A série em si, foi gostosinha e engraçada, o destaque é a Ortega. E claro, CHRISTINA RICCI!!!
Ainda quero escrever mais um texto para fecharmos o ano, então nos vemos em breve!
Um beijo e até já <3