Há alguns meses, na terapia, falei de como me sentia um pouco inútil e a deriva.
Eu estava há um ano desempregada, navegando entre breves e poucos freelas, ainda entendendo como retomar à vida pós-vacina. Muitos dias em casa, em que saía apenas para academia, terapia e eventuais saídas sociais.
A terapeuta me pediu para contar como era a minha vida antes do isolamento: faculdade, estágio, pilates, sair com amigos, insira aqui outras atividades fora de casa e com pessoas. Então, ela olhou e falou que eu não sabia lidar com o vazio.
Isso não era surpresa. Era óbvio.
Então, ela me perguntou do que eu sentia falta quando estava vivendo dessa forma. Lembrei que não tinha tempo para descansar. Que os dias eram contados no relógio. Não tinha uma brechinha.
“Agora que você tem o tempo de descansar, você não consegue se permitir”
Com muita terapia, dias incertos e novas possibilidades de criar, fui me permitindo descansar.
Pequenas pausas ao longo do dia. Caminhar no fim do dia. Não mexer no celular enquanto passo o café. Fim de semana sem ligar o computador. Ficar cinco minutos abraçada na minha gata e deitada no sofá. Fazer um passeio no feriado. Ir ao cinema e assistir o filme sem pausar para mexer no celular a cada 10 minutos.
Nesse tempo, duas chaves viraram para mim: descansar me faz produtiva; ninguém vai fazer isso por mim.
Parar de trabalhar todo dia, no mesmo horário, fazer algo que tire a minha mente do trabalho, me dá forças, para no dia seguinte, começar de novo. Passar o fim de semana sem pensar no trabalho me lembra que não sou definida por ele. Passear, conhecer novos lugares, sentar em uma cafeteria sem hora para ir embora, me mostram que trabalho para viver.
Ficar além do horário, abrir alguns arquivos no fim de semana, responder fora do horário de trabalho te levam apenas para mais longe de você mesmo.
Já fiz tudo isso.
Trabalhei 50 horas por semana para ser demitida logo em seguida. Respondia mensagens de trabalho no meio da aula para refazerem tudo que eu tinha feito. Acumulei funções para questionarem meu reconhecimento no projeto. Me desdobrei em diversas tarefas para escreverem meu nome errado no flyer — ME CHAMARAM DE BÁRBARA. Fiquei até tarde em uma reunião em que fui interrompida todas as vezes que falei. Complete com a sua história.
Isso é para dizer que ninguém descansa por você e ninguém vai repor esse descanso por algo que vai valer a pena. Seu corpo e sua mente não irão aguentar uma nova responsabilidade, um novo cargo, uma nova oportunidade. Se eles não funcionarem, de nada adianta um status.
Por isso, meu convite hoje é: vai descansar!
Coisinhas que faço para tirar a mente do trabalho
ler no café da manhã: deixa o celular no quarto, come o pãozinho com calma, toma o café sentindo ele esquentar o corpo, leia um capítulo. Recomendo coletâneas de contos ou crônicas para esses momentos, sendo os meus favoritos:
Dias úteis, de Patrícia Portela
As cem melhores crônicas brasileiras, organizada por Joaquim Ferreira dos Santos
As pequenas virtudes, de Natalia Ginzburg
caminhar ao pôr do sol: se você trabalha de casa, super recomendo esticar as pernas, trocar o ar, colocar seu álbum favorito e sair andando. Por aqui sempre ouço:
Red (Taylor’s Version)
West Side Story 2021
Sinto Muito
Dona de Mim
assar bolo: faço isso todo domingo fim de tarde. Sirvo com chá para a minha família. Ainda sobra para o lanche da segunda.
Enquanto você lê essa newsletter, eu estarei trabalhando. Na verdade, todos os fins de semana estarei trabalhando até o fim do ano. Não se preocupe, tiro folga no meio da semana para descansar.
Aproveite e me conte como você descansa.
Se a resposta for que não descansa, me conta como você gostaria de descansar e o que poderia fazer para isso ser possível na sua rotina.
Um beijo e até!
que delicado e sincero. feliz de ter te encontrado na trajetória da vida e poder trabalhar contigo. 💕