Eu sei que faz tempo. Houve muitos tempos por aqui.
O tempo de ficar doente, de cama, tomando muito suco de laranja, entrando em video-chamada com a câmera desligada e respondendo apenas o necessário.
Depois que deu o tempo de ter só uma linha marcada no teste, era o tempo de estar na rua, com pessoas, produzindo e fruindo arte. Nesse tempo, conheci gente, falei com amigos, entreguei programas de evento, respondi muitas mensagens e abri muitas planilhas.
E então, foi tempo de me arrastar de cansaço, dormir, limpar mesa de trabalho, estante de livros, trocar roupa de cama, lavar roupa, comprar livros, levar alguns no sebo, voltar para a academia.
Agora, o tempo é de olhar para o que está na minha mesa — alguns e-mails que se perderam no caos, livros que deixei pela metade [no momento de escrita, já terminei], orçamentos para entregar, aula para fazer.
Também está sendo o tempo de olhar para mim e entender o que preciso — um corte de cabelo, voltar a cozinhar, juntar coragem para limpar o armário, retomar conversas, ligar para amigas e marcar um café. Assim como, decidir os próximos passos — vamos pesquisar programas de mestrado? E se fosse uma residência artística? Talvez um curso livre? Qual será a próxima leitura? Ah, tem que voltar a escrever também.
O tempo é maluco, ainda me refiro ao "começo do ano” como se fosse algo do mês passado. Ao mesmo tempo que me toquei que faço 25 anos em menos de 6 meses — pode mandar presente, só me pedir minha lista de leitura. Os dias se arrastam em si, mas as semanas passam e percebo que não tenho nada pronto para a próxima edição.
O sábio disse que há tempo para tudo debaixo dos céus — o The Byrds também disso isso, de uma forma que gruda mais na cabeça — mas, afinal, que tempo estamos e o que fazemos com ele? Está sentindo ele passar? Seja na pele, nas folhas da agenda, no cansaço ou nas datas importantes?
O tempo é estranho, quero fugir dele ao mesmo tempo que preciso entendê-lo. O tempo me assusta e peço que vá mais devagar. O tempo me confronta e quero que ele passe rápido.
O tempo é agora, mas eu apertei "soneca". O tempo pode ser daqui a pouco, mas por que isso não está resolvido ainda?
O tempo se vai e eu fico. O tempo parou e eu estou indo.
Esse texto tá dentro de mim há alguns dias — quando me toquei que já fazia um tempo que não mandava nada, falhando com a minha própria meta de frequência.
Ele era de outra forma, inicialmente, mas agora que parei para escrever — o que estou enrolando há dias — ele saiu assim e é um retrato de como estão as coisas por aqui.
Escrevo em uma quarta-feira a noite, enviarei em um sábado de manhã — que na verdade, é um envio programado em uma futura sexta a tarde — e não sei quando você vai ler. Mas uma das grandes vantagens da newsletter é podermos parar para ler no tempo que der. E ainda revisitar quando quiser.
Não vou prometer que voltarei a frequência correta, prometo que continuarei a escrever e te esperar para essa conversa.
Antes de ir embora, algumas coisas:
outra música que me visitou enquanto escrevia
mais um texto meu lá no Valkirias
estou lendo Oleg, do Frederik Peeters e ainda falarei sobre essa HQ por aqui, mas já deixo a indicação
comecei a assistir Julia, da HBOMax — estou passando fome enquanto assisto. Fiquei sabendo dessa série por esse texto lá no Valks [não é publi, mas sério, se você não acompanha o site, faça um favor a si mesmo e vem ler o que estamos escrevendo. Todo dia um texto novinho sobre cultura pop]
Um beijo e até daqui a pouco!
Fiz uma mini maratona dos seus textos que estavam parados aqui na minha caixa agora de manhã e (talvez por isso mesmo) esse tenha sido meu favorito até agora.
Minha relação com o tempo sempre foi muito esquisita: sempre fui a "criança madura pra sua idade", sempre com pressa de crescer, sempre querendo atingir o máximo que posso em menos tempo. Mas também sou a pessoa que me espanto de pensar como tenho pouco tempo na Terra pra cumprir tudo o que quero, pra ler tudo o que quero, pra ver todos os filmes que estão na minha Watchlist. Também sou a pessoa que daria tudo pra tirar um sábado ou mesmo uma terça-feira de manhã pra sentar na calçada e ver o tempo e as pessoas passarem na minha frente, enquanto eu fico imóvel.
Sempre, sempre que me vejo nesse dilema, me volta "Vienna" do Billy Joel. Não sei porquê.
Acho engraçado também como a relação com o tempo afeta a minha vida pela ótica da ansiedade. O quanto ele tem corrido porque quero estar em tudo, mas quando olho faz só um mês. As vezes da saudades de quando o tempo sobrava ou era uma variável menos importante, mas sendo quem ele é não podemos mais voltar atrás