Na edição passada contei de como fiz um compilado de todos os trabalhos, exposições, festivais e de como me dei conta do tanto que já tinha feito. Aproveitei que estava desbravando os HDs e Drives e montei alguns portfólios — digo no plural porque nessa aventura percebi que consigo produzir de diferentes formas para diferentes necessidades.
Fotografia de espetáculo, audiovisual, registro de eventos culturais, documentação de processos criativos e projetos autorais. Compilei fotos, fichas técnicas, links e exportei como PDF. A ideia, desde o início do ano, era enviar para espaços culturais, coletivos e artistas de Campinas — sim, ainda quero ficar por aqui por um tempo. Estava enrolando desde janeiro, com a desculpa de que nada seria aceito e que nem era um material tão bom assim. A clássica auto sabotagem.
No meio desse rolê, estou relendo “O Caminho do Artista” — já comentei algumas vezes sobre o livro por aqui — e no capítulo “Recuperando o senso de poder”, Cameron diz que temos receio de que as coisas — uma exposição, um edital, um prêmio — deem certo porque implica em assumir responsabilidades.
Tanto na primeira leitura quanto nessa, grifei essa parte, porque achei engraçado como alguém poderia fazer de tudo para se sabotar — seja pelo medo da rejeição ou pelo medo de dar certo. É absurdo, porque tudo que queremos é que dê certo, poxa vida.
Ter nossas preces atendidas dá medo. Isso implica responsabilidade. Você pediu. Agora que recebeu, o que vai fazer? [...] Gostamos de fingir que é difícil seguir os nossos sonhos. A verdade é que o mais difícil é evitar atravessar a soleira das muitas portas que irão se abrir.
Pois muito que bem. Desde abril de 2021, estou enviando currículos para diversas vagas de comunicação. As respostas variam entre “muito obrigado, mas decidimos seguir com outro candidato” ou “vamos deixar seu currículo no nosso banco de dados”. Geralmente é escrito por um robô. Isso quando tem resposta. Assim, estou acostumada — e acomodada — com o não dar certo. Então, quando envio dezenas de e-mails nessa semana, estou esperando que não dê em nada — e isso é horrível por si só.
Eis que algumas respostas começam a chegar. “Seu trabalho é muito interessante”; “ótimo portfólio, um prazer conhecê-la”; “parabéns pela pesquisa”. E a mais assustadora de todas: “podemos marcar uma conversa?”.
ERA JUSTAMENTE A RESPOSTA QUE EU QUERIA!!!! E o que eu fiz? Fiquei encarando o computador por horas, tremendo e pensando “ah não, como assim? O que eu faço com isso?”.
Dos mesmo criadores de “oh Deus, como eu me permitir viver essa síndrome de impostora por anos” vem aí “oh Deus, as pessoas gostaram do meu trabalho, o que eu vou fazer?”.
Portanto, a pergunta que te faço nesse sábado de manhã é: o que você vai fazer se as coisas darem certo?
Calma, eu já respondi os e-mails falando que adoraria uma conversa, meus horários são flexíveis, me diga o que for melhor para você. Não sei o que acontece depois disso, mas prometo que respirei fundo, chorei um pouco e estou me preparando para o próximo passo. E prometo que continuo a contar essa história.
A edição de hoje foi mais curta que o normal. A verdade é que preciso parar de escrever só quando a inspiração vem, tomar vergonha na cara e voltar para a rotina de escrita diária — introduzida pelas páginas matinais. Já contei um pouco sobre elas, se quiser saber mais um pouco.
Acho que tenho usado esse espaço para colocar o que está dentro de mim para fora e eu mesma poder ver tudo isso. Ao mesmo tempo que tem sido uma oportunidade ótima de trocas. A todo mundo que comenta ou me manda mensagem no particular, muito obrigada! Muito bom saber que não estou falando com as vozes da minha cabeça.
Até breve!
Escutei o que precisa escutar hoje