O novo sempre vem. A mudança é inevitável. O novo é sempre melhor. Mudar faz parte de estar vivo. O novo é assustador. Só não muda aquilo que não está vivo.
Tudo isso é verdade, para bem ou para mal. E sempre voltamos para o ponto de que tudo é uma questão de como encaramos o que acontece ao nosso redor. Tenho duas situações para compartilhar que explicam o que senti e pensei nas últimas semanas: fiz um trabalho pela primeira vez e fiz algo que não fazia há anos.
No final de fevereiro, fotografei um casamento pela primeira vez. Tive um pouco de experiência em retratos e em cobertura de eventos. Mas nunca tinha fotografado casais ou um evento tão intenso quanto um casamento. Intenso porque muitas coisas acontecem ao mesmo tempo e eu senti uma necessidade de estar cobrindo cada segundo — afinal é um dia importante e são memórias que ficam para o resto da vida. Fotografar um casamento foi o extremo da sensação “se eu não registrar esse momento, ele não volta mais” — entrada da noiva, troca das alianças, uma lágrima, um sorriso, um olhar.
Como se não bastasse essa pressão emocional, ainda tive um clássico episódio de dor absurda de cólica. Virei dois remédios pra dentro e apenas segui em frente. No final da festa, consegui cinco minutos para ficar em posição fetal no banheiro e conseguir controlar o dor.
Enquanto eu fotografava eu já sabia o que estava dando errando nas fotos — mudança muito rápida de luz, balanço de branco, pessoas saindo com careta no fundo das fotos, foto borrada. Quando sentei para trabalhar na edição, fui do riso ao choro em segundos. Fotos que ficaram incríveis mesmo. Fotos que deram bem errado e que por isso perdi um momento. Fotos que se a gente mexer um pouco dá pra salvar. Fotos que foram direto pro lixo. Sei que falando desse jeito, parece que eu tinha pouco material para trabalhar, mas a real é que eu tinha um material bruto de 1529 fotos. Entreguei 414. E os noivos amaram — com direito a áudio gritando que tinha amado e que não conseguia parar de chorar de felicidade.
O que isso me ensinou? Que preciso me programar melhor para eventos tão intensos. E que preciso confiar mais na minha experiência, no meu estudo e na minha prática. Fiquei meses estudando fotografia de casamento, olhando alguns retratos que fiz e como poderia aplicá-los nesse trabalho, assisti vídeos de diferentes fotógrafos, conversei com os noivos. E principalmente: peguei a câmera e apenas fui. Sem pensar muito e sem ver o mundo ao redor para além do viewfinder.
No começo de março, prestei um concurso público. Isso mesmo, fiz uma prova pela primeira vez desde o vestibular — com direito a passar o gabarito com caneta preta. A vaga é para fotógrafo, então, além das questões de português e matemática (que foi caótica), tinham questões sobre história da fotografia, técnica, conceitos de composição. De fato, um conhecimento específico e do qual eu tenho me dedicado há alguns anos.
Deu até pra falar que foi divertido fazer essa parte da prova, porque eram assuntos que eu me interesso, que busco estudar mais e que gosto de entender como funcionam na fotografia que eu estou criando. E também foi bom ver o quanto eu aprendi nesses anos — algo que muitas eu duvido de mim mesma — e que sou capaz de aplicar. Não corrigi a prova e não estou com expectativa de passar (sério, eu não sei NADA de matemática), mas saí com vontade de me dedicar mais a fotografia, de pesquisar mais, de voltar a estudar.
O que essas duas experiência tem em comum? Em ambas, eu me encontrei naquilo que era desconhecido. Seja porque esse desconhecido me colocou em um estado de alerta, no qual eu não prestei atenção em mais nada além daquilo que eu estava fazendo, me colocando num lugar de total dedicação e entrega. Ou seja porque esse desconhecido me levou de volta para o lugar que eu tenho evitado porque não tenho estabilidade nele, porque acho que essa fase já passou.
Com a pandemia e o fim da faculdade, tenho tido muita dificuldade de me definir profissionalmente, de me apresentar enquanto fotógrafa e artista. Não porque ser essas coisas seja uma questão existencial, mas porque não estou conseguindo trabalhar com isso de fato. São coisas que estou deixando de lado, para depois, quando estiver num lugar melhor, quando as coisas estiverem mais favoráveis. Porém, essas duas experiências me mostraram, mais uma vez, que mesmo que eu esteja me contorcendo de dor de cólica, ainda vou me entregar totalmente na fotografia. Que mesmo que eu me desespere com as questões de matemática, ainda vou me entender com as de história da fotografia.
O desconhecido me leva de volta para quem eu sou. Vou dar o próximo passo?
Essa edição foi bem íntima e sincera, espero que tenha gostado! Lembre-se que a melhor forma de me ajudar a continuar escrevendo e compartilhando sobre os meus processos é indicando essa newsletter para outras pessoas!
Um beijo e até a próxima!
Uma das coisas mais difíceis para o midíalogo é se definir profissionalmente, somos cercados por diferentes conhecimentos que hoje enxergo como diferencial, mas aprendi a tirar o pé do acelerador, sou o que eu quiser ser no momento em que eu quiser ser. Parabéns Bea, mais uma News incrível :)
A parte mais difícil do proximo passo é descobrir oq ele é, é preciso coragem.